quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Sobre a desorientação do doente de Alzheimer

A desorientação espacial é uma característica comum nos doentes de Alzheimer, especialmente nos que estão num estágio mais moderado da doença (caso da minha avó).
 
Nesse link há uma explicação científica bacana sobre essa desorientação:
 
Pela experiência com a minha avó e pelo que vejo de relatos de outras pessoas que possuem parentes com a doença, o "ápice" dessa desorientação chega quando o doente não reconhece mais sua própria casa! E é sobre isso que eu quero falar.
 
Como é curiosa essa característica dos doentes de Alzheimer! É difícil compreender como uma pessoa pode sair da sua própria casa, dar a volta na rua e, minutos depois, voltar para o MESMO lugar e aí, sim, concluir que chegou na sua casa?!?!

Quando levamos minha avó para a rua, ela reconhece a entrada da casa e esse reconhecimento persiste por um tempo (às vezes durante 1h) dentro da casa, mas, logo depois, ela volta a achar que está numa casa estranha. O detalhe é que ela mora na mesma casa há 60 anos, desde que se casou com o meu avô! Nunca morou em nenhum outro lugar, o que deveria ser suficiente para manter um pouco sua orientação, mas não manteve. Muitas vezes ela sequer se recorda que casou com meu avô!
 
Desde que isso tudo começou, notamos os seguintes delírios:
 
- minha avó às vezes fala dos seus pais como se estivessem vivos e diz que quer voltar para a casa deles (que nem existe mais) ou que quer morar com suas irmãs (sendo que as 2 únicas irmãs vivas atualmente são mais velhas que ela e moram com as filhas);
- ela criou a ilusão de que sua casa é, na verdade, a casa da minha mãe! E, mesmo quando reconhece seus objetos pessoais, ela alega que aquela casa "parece" com a sua casa, mas não é a sua casa!
- algumas vezes ela insiste que sua casa é a casa do vizinho que, por acaso, é irmão do meu avô. Ela nunca morou na casa dele (que é bem diferente da dela), mas começou com essa insistência diária de que é lá que ela mora! Muitas vezes precisamos levá-la na rua, deixar que veja a entrada da casa dele e que se convença por si própria que aquela não é a sua casa. Até hoje ela não insistiu em entrar na casa dele, espero que isso nunca aconteça!
 
 O interessante é que, na maior parte do tempo, minha avó reconhece suas coisas (móveis, objetos pessoais, roupas, etc), mas não reconhece o espaço, os cômodos, etc. Quando está de bom humor, ela alega que aqueles objetos parecem com os dela, outra vezes diz que são as coisas dela e que "alguém" deve ter levado tudo para "aquela casa"! Quando está de mau humor (o que é bem mais comum!), ela se torna agressiva, alegando que meus pais roubaram todas as suas coisas e colocaram naquela casa! Minha mãe sempre tenta explicar que, obviamente, se TODAS as coisas dela estão lá, é porque aquela é a sua casa, já que ela (minha mãe) jamais se daria ao trabalho de levar as coisas da minha avó para outro local, mas essa explicação nunca a convence.
 
Não sei se com o tempo ela também parará de reconhecer seus objetos pessoais e se também não reconhecerá mais sua casa ao sair e retornar. A evolução dessa doença não segue exatamente um padrão e geralmente traz surpresas bem desagradáveis!
 
Sinceramente, minha avó está com 82 anos e torço para que ela não viva o suficiente para chegar nos estágios finais do Alzheimer, que são ainda mais terríveis! Vê-la dessa forma já é ruim o suficiente e espero que ela não viva para sofrer durante anos definhando numa cama!

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