quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

28 de Janeiro de 2013



Minha avó dormiu um sono profundo na noite do dia 27 para o dia 28, acordando somente às 5h da manhã para beber um copo de água, segundo minha mãe. Cheguei em sua casa às 9h da manhã e ela continuava dormindo (mais de 12h de sono). Praticamente todas as noites são assim: ela dorme ininterruptamente e acorda pela manhã sem se recordar de absolutamente NADA ocorrido no dia anterior. 
Hoje não foi diferente: ela esqueceu que estava com raiva da minha mãe e de todo seu surto de raiva no Domingo! Dos males o menor!
Porém, os pedidos para que a levássemos de volta para sua casa começaram cedo nesse dia: às 11h da manhã. Consegui distraí-la e a convenci a almoçar às 11h20min. Mas, após o almoço, os pedidos para que a levássemos para sua casa recomeçaram. Nesse dia minha mãe decidiu não contrariá-la e a levou rapidamente para dar uma volta na rua, retornando em seguida para sua casa, o que fez com que ela recordasse momentaneamente que aquela era, sim, a sua casa! Dormiu por mais algumas horas após o almoço mas, após o café da tarde, a "novela" recomeçou!
Hoje cometemos um erro, aliás, eu cometi: resolvi mostrar a ela algumas fotografias antigas, o que concluí posteriormente ter sido uma péssima ideia, pois, depois disso, minha avó começou a insistir demasiadamente em voltar a morar na casa que pertenceu aos meus bisavós, local onde ela deixou de morar há mais de 60 anos!!! Ela insistiu nesse assunto durante todo o dia, intercalando entre momentos onde afirmava não ter uma casa para morar e outros onde afirmava que a sua casa era, na verdade, a casa da minha mãe e que a casa dela ficava em outro lugar (queixa costumeira). Tentamos não contrariá-la para evitar outros surtos de agressividade.
Saldo do dia: minha mãe a levou para dar uma volta na rua e "regressar" à sua própria casa por 4 vezes e meu pai uma vez. Eu não estive presente em nenhuma dessas vezes. 
Hoje duas primas da minha mãe vieram visitar minha avó, o que ajudou a distraí-la por um tempo.
Minha mãe conseguiu colocá-la para dormir às 20h20min (após uma breve relutância onde alegou que não podia dormir naquela cama e que queria dormir na sua casa! Ó céus!). Mas, no fim, deu tudo certo e ela dormiu. Estou nesse exato momento em sua casa, são 22h30min e ela dorme um sono pesado. Hoje dormirei em sua companhia para que minha mãe descanse.

29 de Janeiro de 2013


Hoje foi um daqueles dias de "cão"!
Minha avó acordou aproximadamente às 9h20min, após mais de 12h de sono ininterrupto. Ajudei-a a se locomover até a cozinha, onde tomou café e, posteriormente, até o banheiro, onde pediu para usar o vaso. Ela fica de fralda durante todo o dia, mas em alguns momentos a levamos até o vaso e a incentivamos a usá-lo. Em seguida levei-a de volta ao quarto, onde troquei sua roupa e lhe coloquei uma fralda limpa. Percebi logo que seu humor estava alterado. Geralmente, nos dias em que percebemos que levanta de mau humor, já sabemos que em algum momento o "bicho vai pegar"!
Ela pediu para deitar outra vez na cama e achei por bem não insistir. Lá ficou até aproximadamente 11h. Minha mãe chegou e achamos melhor convencê-la a se levantar, temendo que não sentisse sono à noite. Liguei a TV num programa infantil e deixei-a assistindo. Até então ela ainda não havia começado sua "novena" de pedir para voltar para sua casa!
Porém, às 12h, quando a levamos para a cozinha para almoçar, os delírios recomeçaram: ela voltou a questionar sobre a casa onde seus pais moravam, alegando que gostaria de voltar a morar lá. Tentamos explicar que ela agora mora aqui, na sua casa, mas foi em vão.
Aproximadamente às 13h ela começou a mostrar impaciência, negando-se a conversar e insistindo que precisava voltar para sua casa. Pediu a chave e tentou levantar sozinha da cadeira. Resolvemos levá-la para um passeio na calçada com esperança de que ela visualizasse sua casa e recordasse que vive aqui. Geralmente isso funciona, mas, dessa vez, tudo deu errado! Ela começou a andar na direção contrária, alegando que sua casa ficava naquele rumo (onde antigamente ficava a casa dos seus pais). Na tentativa de convencê-la a voltar na direção correta, ela começou a ficar extremamente agressiva, empacou no meio da rua e ameaçou começar a gritar! Foi uma verdadeira luta conseguir fazê-la caminhar de volta para sua casa! Ao visualizar a entrada, ela recusou-se a entrar, insistindo que aquela não era sua casa e xingando minha mãe. Foi um verdadeiro circo! Quando finalmente conseguimos fazê-la entrar na casa, praticamente arrastada, acabei perdendo a paciência e fiquei brava, coisa que nunca faço, o que a deixou magoada e me causou grande arrependimento. A levamos para o quarto e a convencemos a deitar um pouco na cama. Ela nos xingou de todos os nomes cabíveis e ficou deitada, chorando e se lamentando por quase 1h. Depois acabou dormindo outra vez e assim a deixamos até às 15h30min, mais ou menos. 
Confesso: nossa vontade era de deixá-la na cama pelo resto do dia! Eu senti um extremo mal estar somente em pensar em vê-la novamente acordada!
Eu e minha mãe ficamos muito abaladas com esse surto de agressividade. Todos os dias ao lado da minha avó são sob intensa pressão e angústia, mas alguns, como o dia de hoje, são ainda piores. Fiquei com o estômago embrulhado e minhas pernas tremeram por horas. 
Por fim, consegui tirá-la da cama e a convenci a tomar café com pão. Ela acordou extremamente mau humorada, xingando minha mãe e acusando-a de lhe ter agredido. Só aceitou tomar café porque eu a levei. Notei que ela, nesse momento, já havia esquecido do momento em que eu perdi a paciência com ela horas antes. Após tomar café, consegui convencê-la a usar o banheiro e tomar banho. Ela relutou, mas acabou permitindo porque eu prometi que daria banho nela no lugar da minha mãe. Coloquei-a na cadeira de banho e, com a ajuda da minha mãe (que ficou fora de sua visão, para não irritá-la) demos o banho e depois a levamos de volta para o quarto, onde lhe vestimos uma roupa limpa. Em seguida a ajudei a sentar no sofá da sala e 2 amigas suas chegaram para vê-la (uma delas minha tia avó e a outra uma vizinha). Isso ajudou a distrai-la por um tempo. Meu pai ficou com ela das 17h às 18h, quando eu e minha mãe saímos para caminhar e espairecer um pouco. Quando voltamos, meu pai disse que precisou levá-la para a rua mais uma vez para convencê-la de que ali era sua casa (de novo! É assim o dia todo! O dia TODO!), e que, dessa vez, tudo havia dado certo. Eu e minha mãe fomos para casa, tomamos banho e resolvi descansar um pouco antes de voltar para a casa da minha avó. Minha mãe voltou antes e depois descobri que o "bicho pegou" novamente! Minha avó ainda estava com raiva da minha mãe e deu outro show! Chorou por quase 1h enquanto assistia a missa na Rede Vida. Minha mãe disse que sentou ao seu lado no sofá e ignorou seu choro. Nota: concluímos após muitas experiências drásticas que ignorar é o melhor remédio! O choro chega ao fim e ela acaba se acalmando sozinha! Depois disso minha mãe conseguiu convencê-la a tomar seus remédios e a jantar um pouco. Quando cheguei, às 20h, ela ainda falou algumas vezes que aqui não era sua casa, mas parecia conformada com a ideia de que eu e ela dormiriamos juntas aqui hoje! Estava mais calma e aceitou ir até o banheiro escovar os dentes e depois ir para o quarto e deitar. Em vários momentos ela olhava ao redor, para os móveis e objetos da casa, e comentava que era curioso como essa casa têm as MESMAS coisas que a casa dela! Tragicômico!
Por fim conseguimos colocá-la na cama às 20h30min e lá ela está há duas horas enquanto escrevo no notebook. Parece já estar dormindo profundamente. Passarei mais essa noite aqui, em sua companhia, e veremos como será o dia de amanhã. Não estou nem um pouco ansiosa para saber, pelo contrário: a expectativa de mais um show de choro e agressividade amanhã me causa certo pânico. É uma sensação difícil de descrever! É como eu sempre digo: só quem passa ou já passou por uma situação parecida sabe o QUANTO pode ser desesperador!
Ficarei por aqui somente mais 4 dias e meio e retornarei para Belo Horizonte (cidade onde moro). Temo imensamente pela saúde da minha mãe quando eu me for!

27 de Janeiro de 2013



Hoje foi um daqueles dias ainda mais difíceis.
Ao reencontrarmos a M. na manhã de Domingo, fomos informadas de que minha avó se recusou a dormir na noite anterior, o que fez com que a M. somente conseguisse convencê-la a se deitar às 3h da madrugada. Nota: minha avó toma uma dose cavalar de calmantes à noite e seu horário de ir para a cama normalmente varia entre 20h30min e 21h. O erro dessa noite foi que não a colocamos na cama antes da M. chegar, o que causou uma confusão em sua mente ao vê-la na sua casa, à noite. O resultado disso foi que minha avó acordou às 10h na manhã de Domingo sentindo muito sono e com o humor alterado. Aceitou tomar seus medicamentos da manhã, almoçou comigo e com meus pais e quis dormir novamente após o almoço. Acordou aproximadamente às 15h, tomou café e comeu pão, assim como faz todos os dias. Porém, aproximadamente às 16h, iniciou-se, como de costume, sua crise de confusão mental, pedindo para que a levássemos de volta para sua casa. Conseguimos distraí-la por algum tempo,  mas, logo após tomar banho, aproximadamente às 16h30min, ela voltou a pedir que a levássemos para casa. Como uma chuva forte caía lá fora, ficamos impossibilitados de levá-la para a rua e trazê-la caminhando de volta para sua própria casa - o que geralmente surte efeito e é suficiente para convencê-la de que está em casa! - fato que acabou acarretando um mega surto de raiva e agressividade para cima da minha mãe. Nota: nessa tarde insistimos demasiadamente em convencê-la de que aquela era SIM a sua casa, o que não mostrou resultado, pelo contrário, apenas serviu para deixá-la ainda mais nervosa. Normalmente durante esses surtos de raiva ela xinga minha mãe de todos os palavrões cabíveis e até mesmo a agride fisicamente, o que sua mente depois acaba invertendo, fazendo com que ela diga para todos que minha mãe a agrediu! Os surtos de raiva são sempre seguidos de surtos depressivos, como muito choro e lamentação.
Continuando o relato do dia: quando a chuva finalmente deu uma trégua, eu e minha mãe a ajudamos a dar a volta na casa e a entrar novamente pela porta da frente, o que foi suficiente para convencê-la de que havia chegado em sua casa! Porém o surto de agressividade continuou e ela se sentou no sofá, emburrada, fechou os olhos e se recusou a conversar com a minha mãe e com meu pai. Recusou-se também a se sentar na mesa para jantar e apenas aceitou comer um pouco de macarrão na sala porque eu insisti. Nota: ela geralmente aceita fazer o que eu peço e nunca se irrita e/ou tenta me agredir. Logo depois a convenci a tomar seus remédios da noite (os calmantes) e ela aceitou, mas se recusou a ir ao banheiro escovar os dentes e continuou sentada no sofá, emburrada. Às 21h20min consegui convencê-la a se levantar do sofá e deitar na cama. O acesso de choro somado com os medicamentos fizeram com que ela ficasse bastante dopada, o que dificultou um pouco seu trajeto da sala para o quarto. Consegui fazê-la se deitar, arrumei-a na cama com a ajuda da minha mãe e ela dormiu. Minha mãe dormiu em sua companhia e ela apagou a noite inteira.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

26 de Janeiro de 2013

Após 1 mês afastada, retorno para a cidade dos meus pais. Ficarei por 1 semana.

Reencontro minha avó às 11h30min, logo após meu pai me buscar no aeroporto. Como sempre ela encontra-se na sua casa, sentada na varanda da frente, ao lado da minha mãe. Ela me reconhece normalmente, demonstra estar feliz pela minha chegada, mas logo a confusão começa ao não reconhecer sua própria casa. Desconfio que minha chegada, ocasionando uma mudança na sua rotina, despertou mais cedo sua confusão mental. Ela insiste diversas vezes que aquela não é sua casa, o que fez com que eu e minha mãe tivéssemos que levá-la na rua para que se conscientizasse que aquela era, sim, sua casa!

Nesse mesmo dia a levamos para dar uma volta de carro e, ao retornar, ela não demonstrou continuar com o pensamento de que sua casa não era sua casa! Demonstrou algumas confusões durante a tarde, sendo capaz de verbalizar sua dificuldade em compreender certas coisas. É importante citar que em alguns momentos ela consegue explicar que sua mente não compreende mais as coisas ao redor! Mas, na maior parte do tempo, ela simplesmente não tem NOÇÃO do que pensa e sente. 

Durante a noite, nesse mesmo dia, a confusão recomeçou. A M. (prefiro não citar nomes), nossa faxineira e amiga da família, foi passar a noite com ela para que minha mãe descansasse e para que pudéssemos sair para comer alguma coisa. Descobrimos na manhã seguinte que minha avó dormiu apenas às 3h da manhã (ela sempre dorme às 21h, aproximadamente, e segue até a manhã do dia seguinte), provavelmente confusa pela presença da M. e por insistir mais uma vez que NÃO estava na sua casa e que, por esse motivo, não poderia dormir!

Relatos sobre o dia a dia com um idoso vítima de Doença de Alzheimer

Darei início a partir de hoje a uma série de relatos sobre o dia a dia e a rotina com a minha avó. Como não moramos na mesma cidade e não é sempre que posso viajar e estar presencialmente com ela, quando partir, continuarei os relatos nesse blog de acordo com informações fornecidas pela minha mãe, sua cuidadora.

O que é a Doença de Alzheimer?

A Doença de Alzheimer, por Drauzio Varella:


A doença de Alzheimer (Alois Alzheimer, neurologista alemão que primeiro descreveu essa patologia) provoca progressiva e inexorável deterioração das funções cerebrais, como perda de memória, da linguagem, da razão e da habilidade de cuidar de si próprio.

Cerca de 10% das pessoas com mais de 65 anos e 25% com mais de 85 anos podem apresentar algum sintoma dessa enfermidade e são inúmeros os casos que evoluem para demência. Feito o diagnóstico, o tempo médio de sobrevida varia de 8 a 10 anos.

Causas

Não se conhece a causa específica da doença de Alzheimer. Parece haver certa predisposição genética para seu aparecimento. Nesses casos, ela pode desenvolver-se precocemente, por volta dos 50 anos.

Pesquisadores levantam a hipótese de que algum vírus e a deficiência de certas enzimas e proteínas estejam envolvidos na etiologia da doença. Outros especulam que a exposição ao alumínio e seu depósito no cérebro possam contribuir para a instalação do quadro, mas não foi estabelecida nenhuma relação segura de causa e efeito a respeito disso.

Sintomas

* Estágio I (forma inicial) – alterações na memória, personalidade e habilidades espaciais e visuais;

* Estágio II (forma moderada) – dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos; agitação e insônia;

* Estágio III ( forma grave) – resistência à execução de tarefas diárias, incontinência urinária e fecal, dificuldade para comer, deficiência motora progressiva;

* Estágio IV (terminal) – restrição ao leito, mutismo, dor à deglutição, infecções intercorrentes.

Diagnóstico

Não há um teste diagnóstico definitivo para a doença de Alzheimer. A doença só pode ser realmente diagnosticada na autopsia. Médicos baseiam o diagnóstico no levantamento minucioso do histórico pessoal e familiar, em testes psicológicos e por exclusão de outros tipos de doenças mentais. Mesmo assim, estima-se que o diagnóstico possa estar equivocado em 10% dos casos.

Tratamento

Até o momento, a doença permanece sem cura. O objetivo do tratamento é minorar os sintomas. Atualmente, estão sendo desenvolvidos medicamentos que, embora em fase experimental, sugerem a possibilidade de controlar a doença.

Recomendações

Cuidar de doentes de Alzheimer é desgastante. Procurar ajuda com familiares e/ou profissionais pode ser uma medida absolutamente necessária.

Algumas medidas podem facilitar a vida dos doentes e de quem cuida deles:

* Fazer o portador de Alzheimer usar uma pulseira, colar ou outro adereço qualquer com dados de identificação (nome, endereço, telefone, etc.) e as palavras “Memória Prejudicada”, porque um dos primeiros sintomas é o paciente perder a noção do lugar onde se encontra;

* Estabelecer uma rotina diária e ajudar o doente a cumpri-la. Espalhar lembretes pela casa (apague a luz, feche a torneira, desligue a TV, etc.) pode ajudá-lo bastante;

* Simplificar a rotina do dia-a-dia de tal maneira que o paciente possa continuar envolvido com ela;

* Encorajar a pessoa a vestir-se, comer, ir ao banheiro, tomar banho por sua própria conta. Quando não consegue mais tomar banho sozinha, por exemplo, pode ainda atender a orientações simples como: “Tire os sapatos. Tire a camisa, as calças. Agora entre no chuveiro”;

* Limitar suas opções de escolha. Em vez de oferecer vários sabores de sorvete, ofereça apenas dois tipos;

* Certificar-se de que o doente está recebendo uma dieta balanceada e praticando atividades físicas de acordo com suas possibilidades;

* Eliminar o álcool e o cigarro, pois agravam o desgaste mental;

* Estimular o convívio familiar e social do doente;

* Reorganizar a casa afastando objetos e situações que possam representar perigo. Tenha o mesmo cuidado com o paciente de Alzheimer que você tem com crianças;

* Conscientizar-se da evolução progressiva da doença. Habilidades perdidas jamais serão recuperadas;

* Providenciar ajuda profissional e/ou familiar e/ou de amigos, quando o trabalho com o paciente estiver sobrecarregando quem cuida dele.


Ensaio sobre o Alzheimer

Em 2005, aos 75 anos, minha avó materna foi diagnosticada com Doença de Alzheimer. As suspeitas começaram através da minha mãe e o diagnóstico oficial foi feito pela neurologista.

Atualmente minha avó está com 82 anos de idade.

Por sorte minha mãe, que é filha única, detectou os sintomas (lapsos de memória) bem no início, o que fez com que o tratamento se iniciasse rápido. A neurologista realizou muitos testes e, juntamente com o laudo da psicóloga e do psiquiatra, fez o diagnóstico de Alzheimer e, dessa forma, minha avó começou a ingerir diariamente um medicamento controlado, fornecido pelo SUS, que é responsável por "estacionar" a doença (esqueci o nome do medicamento, que foi mudado posteriormente). Importante ressaltar que o medicamento NÃO faz a doença regredir, ou seja, a pessoa não "melhora" após iniciar o tratamento, apesar "estaciona" no estágio em que já está, o que também não é definitivo, pois a doença continua a evoluir, porém, de forma muito mais lenta.

O medicamento que ela toma diariamente nos dias atuais, que é voltado especificamente para a Doença de Alzheimer, é o Eranz 10mg (Cloridrato de Donepezila). 

Os primeiros anos com a doença foram bastante toleráveis. Os lapsos de memória persistiam, mas nada que prejudicasse severamente a sua rotina. Importante ressaltar que, por orientação dos médicos, nós NUNCA revelamos à minha avó o diagnóstica de Alzheimer. Como ela sempre sofreu de depressão severa, os médicos acharam que ter consciência desse diagnóstico poderia piorar a situação. Então, até hoje, ela não sabe que sofre desse mal.

Também é importante citar nesse relato que várias irmãs da minha avó TAMBÉM apresentaram sintomas da doença, apesar de nunca terem sido oficialmente diagnosticadas. Atualmente apenas 2 irmãs encontram-se vivas, e AMBAS apresentam sintomas da doença, o que indica claramente o aspecto genético do Alzheimer na família da minha avó. Outro detalhe importante é que TODOS na família da minha avó são extremamente depressivos e hipocondríacos.

O tratamento farmacológico mostrou bons resultados em todos esses anos, porém, alguns acontecimentos traumáticos na vida da minha avó foram suficientes para agravar terrivelmente a doença num curto espaço de tempo. Ficou bem claro para toda a família que as mudanças na rotina e no emocional botaram a perder anos de bom tratamento em questão de poucos meses.

Vou explicar: meu avô, que sofria de Insuficiência Renal Crônica e se submeteu à hemodiálise por quase 2 anos, era completamente dependente dos cuidados da minha avó e da minha mãe. Apesar das dificuldades, isso parecia manter a mente doente da minha avó "ocupada" o suficiente para que o Alzheimer não evoluísse de forma tão drástica! Mas, a partir de Maio de 2012, com o falecimento do meu avô, notamos de imediato a piora das condições mentais da minha avó (aumento dos lapsos de memória, mudanças comportamentais e delírios). Apesar dessa piora, a situação se manteve razoavelmente estável até início de Dezembro, quando, até então, minha avó ainda morava sozinha na sua casa (que é vizinha da casa dos meus pais), acompanhada somente da minha tia avó Zenaide, irmã do meu avô. As coisas começaram a desandar quando essa tia avó (também idosa) sofreu uma queda, fraturando o fêmur, o que acarretou numa internação longa, uma cirurgia e a posterior mudança dessa tia avó para uma Casa de Repouso. Logo em seguida foi a vez do acontecimento que seria o marco definitivo e implacável na doença da minha avó: ela também sofreu uma queda, fraturando o braço e um osso do quadril.

Esse foi o divisor de águas nas nossas vidas e na vida dela. 
Foi assustadoramente impressionante como a Doença de Alzheimer piorou com a queda e a fratura do braço. Um dia depois, a memória da minha avó simplesmente se deteriorou a ponto de não se recordar absolutamente NADA sobre a queda e sobre qualquer acontecimento recente! Minha mãe tentou levá-la para nossa casa, o que acarretou em várias crises nervosas, choros e agressões verbais. O resultado foi que desde o dia 21 de Dezembro de 2012 tivemos que levá-la de volta à sua casa e, desde então, minha mãe passou a ficar ao seu lado 24h por dia. Minha avó não aceitou ficar na casa dos meus pais.

Desde o início ela demonstrou a evolução do Alzheimer tendo crises nervosas todas as tardes e efetuando tentativas intermináveis de arrancar o gesso do braço quebrado. Ela nunca se lembrava que havia sofrido uma queda e fraturado o braço. Ela foi submetida a uma cirurgia e tudo simplesmente se apagou de sua memória. Sua agressividade com minha mãe, sua principal cuidadora, aumentou de forma assustadora, a ponto dela chegar a agredi-la fisicamente e depois dizer a todos que foi minha mãe quem a agrediu! Eu e meu pai, que estamos ali, vivenciando a situação, vemos como minha mãe é paciente e amorosa, porém, aos olhos da minha avó, minha mãe é um monstro que a maltrata e agride. Essa é a ilusão que o Alzheimer criou em sua mente - mais uma triste característica dessa terrível doença!

Atualmente estamos em 28 de Janeiro de 2013 e, após retirar o gesso do braço que sofreu a fratura, uma nova e pior fase da doença se iniciou: em alguns momentos do dia, especialmente no final da tarde, minha avó começa a ter crises nervosas e não reconhece sua própria casa. Ela pede desesperadamente para que a levemos de volta para sua casa, o que acaba acarretando em crises de choro e agressividade. Todos os dias isso se repete e algumas vezes conseguimos "contornar" a situação retirando ela da sua casa (algumas vezes colocando ela no carro e dando uma volta no quarteirão) e levando-a de volta em seguida! Normalmente isso é o suficiente para que sua mente se situe no espaço e ela se recorde que aquela é realmente sua casa! 

Minha mãe dorme com ela todas as noites, porém, ela afirma categoricamente para TODOS que fica o dia todo sozinha. Sua mente parece ter sofrido um bloqueio nos dias que antecederam sua queda e ela não se recorda que, desde o dia 21 de Dezembro de 2012, minha mãe e eu revezamos dormindo com ela TODOS OS DIAS. Ela não se recorda que fraturou o braço. Ela não se recorda de praticamente NADA desde então. 

Além desse notável e diário esquecimento sobre onde é sua casa e a confusão em não reconhecer o ambiente em que se encontra, ela também começou a não reconhecer as pessoas próximas, como eu, sua única neta. Em vários momentos do dia ela conversa comigo e percebo que ela fala como se eu fosse outra pessoa.


  • Alguns fatos importantes: eu não moro na mesma cidade que minha avó e meus pais. Há 10 anos me mudei para outro estado e viajo sempre que posso para vê-los e para ajudar minha mãe com a minha avó. No momento me encontro na casa dos meus pais e aqui ficarei por 1 semana. Cheguei no dia 26 e, desde então, estive praticamente o tempo inteiro com a minha avó.
  • Mais alguns fatos importantes: minha mãe é filha única e não é rica. Meus avós também nunca foram ricos, pelo contrário, minha avó recebe pouco mais de 1 salário mínimo de pensão após a morte do meu avô. Resumindo: NÃO temos dinheiro para pagar um cuidador para ajudar com a minha avó o dia todo e muito menos para colocá-la numa casa de repouso - o que, de qualquer maneira, minha mãe não aceita. No momento meus pais pagam esporadicamente a mulher que faz faxina na casa deles (que já é praticamente da família, pois a conhecemos há mais de 15 anos) para ficar com a minha avó 1 dia na semana para que minha mãe descanse. No resto do tempo minha mãe cuida da minha avó SOZINHA, já que eu, infelizmente, moro em outra cidade. Meu pai ajuda no que pode, mas, basicamente, minha mãe faz tudo, o que é exaustivo e bastante estressante. Temo todos os dias pela saúde física e mental da minha mãe. Outro detalhe importante é que minha avó sempre foi uma pessoa de gênio difícil, extremamente nervosa e teimosa, o que piorou drasticamente com a Doença de Alzheimer.
Esse é apenas um resumo e algumas anotações da situação em que nos encontramos.
Os próximos posts serão de anotações sobre os acontecimentos do dia a dia com a minha avó e relatos meus e da minha mãe sobre nossa situação desesperadora.

Conviver com uma pessoa com Alzheimer é viver diariamente no limite. É angustiante. Nos sufoca. Minha avó se transformou em outra pessoa, num "ser" estranho que não consegue mais manter uma linha de raciocínio, um diálogo ou qualquer coisa parecida. As horas do seu dia variam entre surtos de depressão, raiva e exaustão. 

A única coisa que posso afirmar com toda certeza é que aquela pessoa não é mais a minha avó.
Aquela não é a mulher que sempre considerei minha segunda mãe. Aquela mulher forte, decidida, pró-ativa, que sempre tomou a frente de todas as decisões, que ajudou meus pais a me criar, essa mulher se foi. Em alguns momentos, muito raros, consigo enxergar alguns resquícios dessa pessoa, perdidos dentro daquele corpo doente. E isso me destrói, me corrói por dentro. Isso deixa meu coração em pedaços.

Finalizo esse primeiro post com um depoimento feito pela atriz Jodie Foster sobre sua mãe, que também sofre de demência.

Faço minhas suas palavras, com as devidas alterações:

"Vó, sei que você está em algum lugar dentro desses olhos castanhos e que há muitas coisas que você não vai entender. Mas esta é a mais importante que você tem que registrar: te amo, te amo, te amo. E espero que, eu falando três vezes, isso vai magicamente entrar na sua alma, encher você de graça e felicidade ao saber que você fez um ótimo trabalho na vida. Você é uma grande avó. Por favor, leve isso com você quando finalmente estiver pronta pra ir."